Como já se sabe o cancro é uma das principais preocupações do mundo científico do século XXI e é o pior pesadelo de qualquer pessoa. O aumento da incidência de cancro é atribuído essencialmente aos dois factores: o aumento da esperança média de vida e a poluição.
Cancro é uma doença genética, mas nem sempre hereditária. Apenas 5% dos casos do cancro são hereditários, os indivíduos apresentam genes que aumentam a probabilidade de aparecimento do cancro, mas só se pode dizer que existe uma predisposição para o aparecimento do cancro. Exemplificando: em cem mulheres com cancro da mama (sendo este um tipo de cancro que pode ser transmitido hereditariamente) apenas 7 apresentam genes que as predispõem para este tipo de cancro, por outro lado em cem mulheres com estes genes só 6 irão desenvolver o tumor.
95% dos cancros são espontâneos, podem ter origem nas mutações genicas ou cromossómicas estruturais que transformam os proto-oncogenes em oncogenes e desactivam, geralmente, os genes supressores tumorais.
Os proto-oncogenes são genes que codificam proteínas que estimulam a divisão celular, normalmente, estão inibidos de forma que uma célula normal só se consiga dividir-se 50-60 vezes durante a sua vida. Nos indivíduos adultos estes genes estão desactivados (só se activam para reparação de tecidos lesionados e também estão funcionais nos fetos, pelo que as células cancerígenas assemelham-se à células estaminais embrionárias). Porém, se ocorrer uma mutação genica por substituição de um nucleótido que torna a proteína sintetizada mais activa, o que aumenta a divisão celular, passando a célula dividir-se descontroladamente. Outra possibilidade é o desenvolvimento do tumor devido a uma desactivação de genes supressores tumorais, que estão activos em células normais do indivíduo adulto, inibindo a mitose descontrolada. Os genes supressores tumorais quando desactivados deixam de produzir as proteínas inibidoras da divisão celular e a célula mutante começa a dividir-se descontroladamente.
As mutações são as causas imediatas de cancro, pois descontrolam a regulação genica da célula e a mitose celular. Entre várias mutações genicas e cromossomicas existem alguns tipos que originam tumores. Por exemplo, as substituições de nucleótidos num proto-oncogene podem original uma proteína mais activa do que a normal o que aumentará a divisão celular. Pelo mesmo mecanismo, a substituição de um nucleótido na sequência de um gene supressor pode originar uma mutação com perda de sentido na proteína sintetizada e pode afectar o seu funcionamento (alteração evidente), pode também ocorrer uma mutação nonsense na proteína (quando é sintetizada uma proteína demasiado curta e não funcional. Quanto às mutações cromossímicas, as inversões podem deslocar um proto-oncogene para um promotor mais activo e serão sintetizadas mais proteínas estimuladoras de mitose, o mesmo acontece se um proto-oncogene, na sequência de uma inversão ou translocação recíproca (exemplo: cromossoma da Filadélfia), for deslocado para um gene promotor mais activo.
No entanto, normalmente o cancro é provocado pelas várias mutações consecutivas, erros da replicação do DNA e da mitose que não são reparados nem as células mutantes são detectadas e destruídas pelo sistema imunitário. Frequentemente, existe uma série de activação de proto-oncogenes que se transformam em oncogenes e a desactivação de genes supressores tumorais o que permite a divisão descontrolada das células cancerosas, torna-as imortais (não sofrem morte celular programada – apoptose), fá-las perder as ligações intercelulares e permite espalhar-se pelo todo o corpo através de vasos sanguíneos e linfáticos formando tumores secundários (metástases). Assim, o cancro pode levar mais de 10 anos até ser detectado devido ao aparecimento de sintomas. É habitual os cientistas darem o exemplo do cancro da mama – um tumor demora 10 anos para atingir 1 cm de diâmetro.
Se considerarmos as causas primeiras das mutações que estão na origem do cancro podemos distinguir factores naturais (mutações espontâneas) e factores como radiação ionizante, radiação Ultravioleta, produtos químicos (carcinogénios) e vírus. No quotidiano nós contactamos com vírus, radiação solar e radiações de aparelhos eléctricos, mas se não conseguimos evitar por completo estes factores temos de reduzir a exposição a um dos mais perigosos – os carcinogénios. Entre estes produtos químicos podemos distinguir o benzeno, um dos componentes voláteis do petróleo bruto. Este químico é altamente prejudicial à saúde humana, sobretudo durante as exposições prolongadas.
Este mistério tem intrigado a comunidade científica. Após o sucedido, os médicos que seguiram pessoas ligadas à catástrofe perceberam modificações no património genético destes, ao longo dos anos.
Doenças crónicas, achaques repetidos e risco de desenvolver doenças cancerígenas são algumas das consequências das composições de hidrocarboneto transportadas pelo barco responsável pelas mutações.
Coincidência ou não, os sintomas revelaram-se nos pescadores em contacto com a maré negra, mas a alguns pacientes foi-lhes diagnosticada a doença de Huntington – o que levantou dúvidas. Contudo, a exposição aguda aos hidrocarbonetos aromáticos (presentes no petróleo) tem sido associada a sintomas respiratórios e alguns compostos deste combustível, como o benzeno, são cancerígenos.
O petroleiro liberiano naufragou a 13 de Novembro de 2002 na costa da Galiza, tendo derramado 50 mil toneladas de combustível, transformou-se num dos piores acidentes ambientais da história.
( http://www.cienciahoje.pt/index.php?oid=47487&op=all )
O fenómeno que se verificou após a catástrofe ecológica de Prestige na costa espanhola provocou não só um desequilíbrio biológico, mas também vários repercussões ao nível da saúde humana. Muitos dos voluntários e pescadores que tiveram expostos aos vapores nocivos de benzeno durante um tempo prolongado começaram manifestar doenças genéticas, como as mutações raras e cancro. Dado que a catástrofe aconteceu em 2002, passados os 9 anos é possível detectar as alterações ao médio e longo prazo que ocorreram no organismo das pessoas, nomeadamente no genoma humano.
Hoje em dia, sabe-se que algumas regiões do genoma matam com maior facilidade, é por essa razão que são mais frequentes uns tipos de cancros do que outros. A exposição aos carcinogénios, como alguns hidrocarbonetos aromáticos, provoca o aparecimento de cancro devido a mutações nas regiões do DNA que são mais vulneráveis. Assim, o cancro pode aparecer passando muitos anos nas pessoas que estiveram expostas a estes produtos químicos durante o desastre ambiental de Prestige. O mais interessante é que para além de doenças genéticas como o cancro foram diagnosticadas as doenças raras e mortais como a doença de Huntington que é causada por uma mutação. Trata-se de um alelo autossomico dominante o que aumenta a probabilidade de os filhos de progenitores afectados sofrerem desta doença. Não se sabe com certeza se a causa do aparecimento desta mutação é o benzeno, mas como é uma doença hereditária transmitida por um alelo dominante se a causa fosse anterior ao derrama isso seria visível nas arvores genealógicas dos habitantes, certamente haveria casos de doença nas gerações anteriores que não estiveram expostas ao benzeno. Isto leva-nos a pensar que para além de provocar o cancro, que embora é uma patologia grave ainda pode ser tratado, o petróleo derramado pode provocar o aparecimento de doenças genéticas graves e até afectar as gerações futuras, uma vez que as células sexuais podem também sofrer mutações genicas e cromossómicas que serão transmitidas a descendência.
Deste modo, as consequências de derrame do petróleo podem afectar as gerações futuras, devido a mutações que podem afectar as células sexuais. O problema de catástrofes ecológicas torna-se cada vez mais preocupante quando maior é o nosso conhecimento dos mecanismos de aparecimento do cancro e das mutações em geral.
Em suma, perante as novas investigações que detectam as alterações no genoma humano derivadas de maré negra podemos dizer que as catástrofes ambientais já não são o alvo da preocupação dos ambientalistas mas também dos médicos. O derrame do petróleo não é só capaz de destruir um ecossistema, pode provocar, ao longo prazo, alterações no genoma humano e, certamente, animal. As consequências serão desastrosas – a catástrofe ambiental originará uma catástrofe genética.
A intervenção do homem no meio ambiente cada vez mais altera o clima, provoca aumento do buraco de ozono e polui o ambiente. Em consequência de tudo isto cada vez mais espécies são postas em perigo de extinção. O próprio homem sofre da sua acção irracional: cada vez mais casos de cancros da pele e cataratas são detectados devido ao aumento da taxa da radiação ultravioleta B que chega a superfície terrestre. Os produtos transgénicos (OGM) são uma outra possível ameaça que poderá provocar a contaminação de organismos. Agora suspeita-se que as marés negras podem provocar mutações severas em seres vivos, tanto em animais como em pessoas.
Belerofonte (pseudónimo)