Molécula 'Tafamidis' foi desenvolvida pela farmacêutica americana FoldRx, comprada recentemente pela Pfizer
«Pelo fim da paramiloidose e o início de uma vida com dignidade» é o título da petição pública que há vários meses corre na Internet. O desenvolvimento de um medicamento que trava os efeitos da Polineuropatia Amiloidótica Familiar, enfermidade hereditária, rara e mortal, conhecida como ‘doença dos pezinhos’, que se espalhou mundialmente a partir de Portugal, e a sua ainda não aplicação no nosso país tem levantado muitas críticas ao Ministério da Saúde e ao Infarmed.
Em conversa com o «Ciência Hoje», Carlos Figueiras, presidente da Associação Portuguesa de Paramiloidose (APP), diz não compreender por que razão a substância Tafamidis (Fx-1006A), com o nome comercial de Vyndaqel, não teve, como noutros países, autorização especial do ministério da Saúde para ser aplicada antes da sua aprovação pela Comissão Europeia e pela Agência Europeia do Medicamento (EMA), mesmo com resultados francamente positivos nos ensaios clínicos.
Em Portugal existem aproximadamente dois mil doentes sintomáticos e seis mil assintomáticos, fazendo com que este seja o país com maior incidência da doença. Carlos Figueiras explica que o Tafamidis “está a ser testado há quatro anos, sendo desde 2010 aplicado em França e desde este ano em Itália, ao abrigo da Autorização de Utilização Especial dos ministérios da Saúde daqueles países”.
Ao travar a doença (o medicamento impede a sua evolução ao bloquear o depósito da proteína nos tecidos de todos os órgãos), é possível evitar a única forma que até agora se conhecia de aumentar a esperança de vida dos doentes: o transplante hepático.
“Existem neste momento 100 doentes que iriam beneficiar do tratamento e porque ainda não têm acesso a este têm de estar à espera do transplante, o que pode ser perigoso e não é tão eficaz”, afirma Carlos Figueiras.
Em Portugal, desde 2007, 45 portadores da doença participam nos ensaios clínicos do medicamento, tendo sido os custos suportados pela Farmacêutica Americana FoldRx, que desenvolveu o Tafamidis (e que foi comprada o ano passado pela Pfizer).
Carlos Figueiras, presidente da Direcção Nacional da Associação Portuguesa de Paramiloidose
Mas a eficácia dos ensaios (o medicamento demonstrou-se 100 por cento eficaz em 60 por cento dos casos) não convenceu o ministério da Saúde a dar 'a tal' autorização especial várias vezes pedida Associação Portuguesa de Paramiloidose e pelos doentes.
“A APP fez todos os possíveis para que os doentes portugueses beneficiassem antecipadamente da terapia com Tafamidis. Mas o Ministério da Saúde escondeu-se atrás da Agência Europeia do Medicamento que não tinha ainda publicado o relatório de avaliação científica”. A autorização foi finalmente concedida no passado 21 de Julho, reconhecendo que o Tafamidis traz benefícios clínicos para quem o toma.
Mas isto não é suficiente. Falta a autorização da Comissão Europeia para a sua comercialização, que está praticamente garantida dentro de alguns dias visto não existir nenhum caso em que um medicamento aprovado pela EMA não fosse autorizado pela Comissão Europeia.
Mas este não é ainda o último passo, a Infarmed só o irá distribuir se a Pfizer estiver interessada em comercializá-lo em Portugal.
Sendo o Vyndaqel um “medicamento órfão”, ou seja, um medicamento que utilizado para uma doença rara, a complicada questão processual e aquilo que Carlos Figueiras chama de “falta de vontade política” e “razões economicistas”, faz com que para já a esperança dos paramiloidóticos seja acreditar no “humanismo da presidente da Assembleia da República, Assunção Esteves, e do Presidente da República Cavaco Silva”, figuras a quem se destina o abaixo-assinado.
“Receio que o abaixo-assinado tenha mesmo de ser entregue quado atingir as quatro mil assinaturas”, lamenta Carlos Figueiras, que preferia depositá-lo já no “museu de documentos históricos” da associação.
2011-09-06
Por Luísa Marinho