Investigação criminal, genética e “passaporte genético do cidadão”

Amostras de DNA podem determinar cor dos cabelos
Descoberta relevante em investigações criminais
2011-01-06
Teste distingue várias nuances em tons de cabelo semelhantes
Amostras de DNA permitem determinar, com precisão, a cor dos cabelos de uma pessoa, segundo uma nova técnica descoberta por investigadores holandeses, que poderá revolucionar a polícia científica.
Até agora, apenas a cor dos olhos poderia ser indicada com exactidão a partir da recolha de amostras de sangue, esperma, saliva e células da pele. De acordo com a técnica descrita hoje na revista "Human Genetics", será possível prever com uma precisão superior a 90 por cento se uma pessoa tem cabelos ruivos ou pretos e em 80 por cento se tem cabelos castanhos ou loiros.
O novo procedimento, a partir de amostras de DNA, é mesmo capaz de diferenciar diversas nuances em cores semelhantes. "Poder prever diferentes cores de cabelos, a partir do ADN, é um avanço maior, porque, até agora, apenas os cabelos ruivos, que são raros, podiam ser identificados", sustentou Manfred Kayser, professor de medicina legal e especialista em biologia molecular no Centro Médico Erasmus de Roterdão, na Holanda.
Para as suas pesquisas, a equipa de cientistas holandeses usou a codificação genética de centenas de europeus e identificou 13 marcadores DNA em 11 genes ligados à cor dos cabelos.
Os investigadores crêem que um teste DNA poderá ser desenvolvido para ajudar os polícias em certos inquéritos criminais.

 
Investigação criminal, genética e “passaporte genético do cidadão”
Já a algumas décadas que os criminalistas usam a tecnologia de Impressões Digitais Genéticas para determinar a origem de diferentes amostras de material genético que encontra-se no local do crime. É possível recolher a amostra de DNA do local do crime e as amostras de diferentes suspeitos e depois de amplia-las através da técnica do PCR (Reacções de Polimerização em Cadeia) analisar comparando o número variável de segmentos de restrição que constituem a marca genética de cada indivíduo.
A técnica de Impressões Digitais Genéticas é usada não só na investigação criminal mas também na determinação de paternidade duvidosa, por exemplo quando há uma disputa pela herança. No entanto, a possibilidade de identificar cada indivíduo através de uma pequena porção de células que ele deixa pode ter tanto as consequências benéficas como as mais preocupantes e assustadoras.
Obviamente, para uma investigação criminal a possibilidade de verificar se um determinado suspeito permaneceu ou não no local do crime com um grau de certeza de 99,9% é fantástica. Esta técnica não só ajuda a encontrar os verdadeiros criminosos, mas também permite às pessoas inocentes evitar a pena de prisão ou mesmo a pena de morte.
Agora, com a possibilidade de identificar as características fenotípicas do indivíduo a qual pertence uma amostra de DNA permite encontra-lo com maior facilidade, por exemplo, construindo um “retrato” do suspeito baseado nas suas características genéticas.
Porém, imaginemos que a genética se desenvolve até aos patamares nunca antes vistos, quando será possível elaborar bases de dados de genomas de países inteiros. Será possível identificar o cidadão que deixou o seu lixo na rua, por exemplo, um como de plástico com a sua saliva – o DNA será extraído, identificado e a multa será enviada directamente a casa do indivíduo. Claro que é um caso mais ridículo, mas as pessoas já são multadas em Londres se deixares cair uma pastilha elástica no chão.
Mas isso tudo são brincadeiras… No entanto, imaginemos que a ficção científica se torna verdade, de novo. (Pois, no início do século XX a viagem à Lua ainda era ficção científica). Lembremo-nos do filme Gattaca que retrata um mundo onde a genética desenvolveu-se de tal modo que afecta todas as áreas da vida humana, incluindo o emprego e o sucesso de cada indivíduo. Os embriões podem ser escolhidos conforme as suas características genéticas, como o sistema imunitário, sexo, cor de cabelo, altura, capacidades físicas.
A engenharia genética permite escolher embriões com mais saudáveis através do diagnóstico pré-implantatório, com menor probabilidade de terem doenças hereditárias perigosas. Já é possível escolher o sexo do embrião quando se trata da fecundação in vitro, embora não é eticamente correcto. Será que no futuro vai ser possível elaborar desde momento de nascimento ou mesmo momento da fecundação o perfil genético de um ser humano e determinar as suas características e capacidades físicas? A ciência do futuro certamente permitirá isso, desde que as questões éticas sejam postas em segundo plano. Como já conhecemos da trágica história do século XX, a eugenia foi usada pelos nazis para justificar o assassínio de milhões de pessoas que eram de uma raça “inferior”.
No futuro, cada um de nós poderá ser identificado através do seu genoma, como se este fosse o seu passaporte – um “documento” que não pode ser deixado em casa ou esquecido em algum sítio, uma prova infalível da nossa identidade, do que somos fisicamente. Tal como nos filmes da ficção científica a nossa sociedade do futuro poderá enfrentar um novo tipo de discriminação – discriminação genética. Provavelmente, as empresas, o exército e o governo vão querer ter os melhores trabalhadores, não só mais inteligentes mas também mais saudáveis, aqueles que serão “geneticamente” imperfeitos vão ser postos a parte.
As descobertas científicas são sempre ambíguas – podem trazer tanto benefício como prejuízo, tudo depende da forma como nós as usamos. Para não sermos as vítimas do progresso tecnológico não podemos colocar a ciência acima da moral e do bom senso. Infelizmente, o ser humano é inteligente, agressivo e nem sempre racional.