Em Junho de 2011, no Hospital Karolisnka, em Estocolmo (Suécia), foi efectuado
a primeira implantação de traqueia artificial.
Num artigo publicado
recentemente na revista «The Lancet», um grupo de investigadores no qual
se inclui a portuguesa Ana Teixeira descreve a operação e a evolução
pós-operatória do doente.
A intervenção cirúrgica foi efectuada num doente de 36 anos que
sofria de um cancro da traqueia descoberto já num estado avançado. O
prognóstico de sobrevivência dos pacientes com este tipo de cancro cinco anos
após o diagnóstico é apenas de 5%.
A solução proposta foi a implantação de uma traqueia criada a partir
das células estaminais do próprio doente, o que elimina a possibilidade de
rejeição que é comum nas operações de transplante de órgãos e enxerto de
tecidos dos outros organismos devido a incompatibilidade do complexo HLA e
consequente resposta do sistema imunitário. O formato desta traqueia artificial
foi baseado nas imagens obtidas durante numa tomografia
computadorizada da traqueia do paciente a partir das quais foi criado o modelo
em 3D o que permitiu melhor adaptação anatómica do órgão. Composta por um
polímero (um tipo de plástico), foi tratada com células retiradas da
medula espinhal do paciente durante as 36 horas que precederam a cirurgia.
Durante as duas semanas após a operação, e com o propósito
de continuar a colonização da traqueia artificial com células estaminais,
o paciente recebeu um tratamento de hormonas eritropoietina (estimula a
produção das células do sangue na medula óssea) e de G-CSF. Neste intervalo do
tempo registou-se um aumento da expressão de genes que inibem a apoptose e um
aumento de células estaminais em circulação sanguínea.
Seis meses após a operação, o paciente apresenta uma boa qualidade
de vida, sem recorrência do tumor. A traqueia artificial rapidamente serviu de
suporte ao crescimento de células e apresenta hoje um revestimento com células
epiteliais (que servem de barreiras contra a entrada de agentes invasores).
A investigadora explica que nas duas semanas que se seguiram a
cirurgia, registou-se um aumento de células estaminais na circulação sanguínea
e um aumento da expressão de genes anti-apoptose nestas células.
Agora, a equipa está num estudo complementar, a analisar a
interacção de células estaminais com a traqueia artificial in vitro. Paolo
Macchiarini, cirurgião italiano, foi o responsável por esta operação e pensa
agora utilizar a mesma técnica para tratar uma criança de nove meses da Coreia
que nasceu com uma malformação da traqueia.
Esta tecnologia parece ter um futuro promissor, pois não requer dadores
humanos, a traqueia artificial pode ser criada em poucas semanas, e não causa
rejeição por causa de incompatibilidade entre o receptor e dador, diminuindo
riscos de inflamação e necessidade de intervenções cirúrgicas posteriores.