Parkinson e Alzheimer ‘dificultam a vida’ aos investigadores (Doenças requerem marcadores preditivos eficazes)

Ainda não existe nada que seja eficaz em travar a progressão da doença de Parkinson ou o aparecimento de Alzheimer. No entanto, nos próximos anos, espera-se que os resultados de estudos a decorrer possam permitir um diagnóstico precoce ou mesmo uma cura para estas doenças que afectam cada vez mais pessoas.
No segundo dia da Reunião da Sociedade Portuguesa de Neurociências, que decorreu entre quinta-feira e sábado, em Lisboa, Joaquim Ferreira e Alexandre de Mendonça abordaram a questão da «Progressão da doença de Parkinson» e a importância de «Identificar precocemente a doença de Alzheimer».
Em entrevista ao Ciência Hoje (CH), Joaquim Ferreira afirmou que actualmente, “aquilo que os médicos e que os investigadores procuram” fazer em relação ao Parkinson, “é interferir na progressão da doença”. Para o investigador da Faculdade de Medicina de Lisboa (FML) e do Instituto de Medicina Molecular (IMM), “mais do que tratar os sintomas, procura-se idealmente curar a doença”. Mas, “assumindo que é difícil”, tenta-se “pelo menos modulá-la fazendo com que aconteça mais tarde coisas que geram incapacidades para os doentes”, explica. E acrescenta: “o objectivo último de tudo o que se faz em termos de investigação é conseguir atrasar a progressão ou idealmente curar. Muitas vezes, concentramo-nos em curar os sintomas porque não temos boas armas para interferir verdadeiramente na doença”.
Existem “vários problemas que estão relacionados com a doença, que não nos facilita a vida, e com a metodologia, para a qual ainda não temos solução”, afirma Joaquim Ferreira. “Um dos problemas metodológicos é não termos marcadores que permitam, com menos doentes e num mais curto espaço de tempo, tirar conclusões que sejam indiscutíveis”, explica.
O mais importante em termos de investigação nesta área é, de acordo com o cientista, existirem “marcadores que fossem resultado de um estudo de imagem, de um estudo neurofisiológico, de um parâmetro clínico, que permitisse num grupo pequeno de doentes ter uma boa pista de que determinado composto interfere na doença”. Mas, em “40 anos de investigação” à doença de Parkinson “ainda não houve nenhuma pista” que permitisse encontrar esses marcadores. Por isso, “o envelhecimento natural continua a ser o melhor factor que permite predizer o aparecimento da doença”.
Neste momento, Joaquim Ferreira e equipa do IMM estão a avaliar parâmetros clínicos, isto é, “escalas clínicas ou desenho dos estudos, que permitam tirar estas conclusões”. Outra das áreas de investigação “tem a ver com o rever todos os dados disponíveis no sentido de dizer quais é que são as intervenções terapêuticas eficazes, quais é que são aquelas para as quais não existem dados que suportem o seu benefício”.

Diagnóstico precoce

“As estimativas” apontam para que existam “cerca de 70 mil pessoas com doença de Alzheimer em Portugal”, afirma Alexandre de Mendonça ao CH. No entanto, o investigador da FML e do IMM sublinha que “quando indicamos estes valores, não estamos a incluir outras formas de demência frequentes, nem os pacientes em que os defeitos cognitivos não atingem uma gravidade compatível com demência”. Estas são pessoas “que também têm um risco de progredir para demência e que manifestam queixas e dificuldades na vida diária em consequência dos esquecimentos e alterações cognitivas”.
A queixa inicial que poderá identificar o início de um problema “são os esquecimentos”, explica Alexandre de Mendonça. E, “muitas vezes, os próprios familiares a certa altura acham que esses esquecimentos são exagerados e estranhos para a idade e levam a pessoa ao médico”. Segundo o investigador, “em geral, quando os doentes e familiares vão ao médico por esse problema, quase sempre existe alguma coisa que deve ser vista porque é preocupante”.

A razão pelo qual é difícil diagnosticar precocemente a doença de Alzheimer prende-se com o facto de “todos nós termos alguns esquecimentos e isso pode não ser, só por si, muito valorizado”. Daí a importância de identificar “marcas da doença” que permitam “puder dizer que, embora seja uma fase muito precoce, a doença já está presente”.
Alexandre de Mendonça sublinha que para “diagnosticar, num futuro muito cedo, a doença, vamos ter de recorrer a biomarcadores”. Estes biomarcadores já existem, apesar de ainda não se saber “qual a melhor combinação dos biomarcadores em termos preditivos”.
A “vantagem do diagnóstico precoce é os doentes poderem entrar em ensaios clínicos destinados a atrasar a progressão da doença”. Segundo o cientista, “vários centros em Portugal já têm ensaios clínicos nesta área, sendo talvez o mais importante realizado com um anti-corpo monoclonal dirigido contra o beta-amilóide”, no qual o próprio participa. Mas existem também “outros ensaios, alguns a decorrer, outros a começar, com outras moléculas”, o que demonstra “um grande esforço dos investigadores no nosso país”.

2011-05-31

Por Susana Lage