Raparigas atingem a puberdade cada vez mais cedo (Crónica)

Os seres humanos evoluem - a nossa espécie adapta-se ao meio ambiente. Os factores ambientais interagem com o nosso organismo e influenciam o seu desenvolvimento. Por vezes, as alterações que a nossa espécie sofre são bastante preocupantes. A poluição é um dos exemplos desta interacção. As substâncias como os metais pesados podem condicionar o funcionamento do nosso organismo e provocar danos graves. Porém, existem outros produtos químicos que podem alterar o funcionamento dos sistemas endocrino e reprodutor do ser humano.

As raparigas norte-americanas atingem a puberdade cada vez mais cedo, começando a ter desenvolver os seios aos sete anos e pelos púbicos aos oito, revela um estudo publicado hoje na Pediatrics.
Os autores referem que a puberdade precoce é, muitas vezes, associada à tensão arterial e a uma taxa de glicemia muito elevada, sintomas muito frequentes em diabéticos.
Para o estudo norte-americano, foram analisadas 1239 meninas em três regiões dos Estados Unidos: em Nova Iorque pela Mount Sinai School of Medicine, em São Francisco pela associação de saúde Kaiser Permanente e em Ohio pelo Cincinnati Children Hospital.

Na Europa
Um outro estudo, dinamarquês e publicado em 2009, tinha analisado a puberdade entre as crianças de duas amostras europeias, em 1991-1993 e 2006-2008, tendo demonstrado que o desenvolvimento dos seios nas meninas acontecia, em média, 1,02 anos mais cedo em 2006, comparativamente com 1991.
A investigação apontava a influência provável de produtos químicos capazes de modificar o sistema endócrino que regula as hormonas.
“A exposição crescente aos produtos químicos que perturbam o sistema endócrino pode estar relacionada com esta evolução”, defendia o estudo. (http://www.cienciahoje.pt/index.php?oid=44464&op=all)

A puberdade precoce é caracterizada como o desenvolvimento de caracteres sexuais secundários antes dos 8 anos nas raparigas e antes dos 10 anos nos rapazes. Os cientistas distinguem dois tipos de puberdade precoce: a verdadeira puberdade precoce e a puberdade pseudoprecoce.
A puberdade pseudoprecoce pode ter como causa um tumor num testículo, num ovário ou nas glândulas supra-renais, pois, estes órgãos produzes androgénios e estrogénios – hormonas sexuais que desencadeiam o desenvolvimento de catactéres sexuais secundários, a espermatogénese e a oógenese. Outra causa de puberdade pseudoprecoce é uma doença hereditária rara que afecta os rapazes – testotoxicose. Ocorre o desenvolvimento dos testículos que não depende do hipotálamo nem da hipófise. A síndrome de McCune-Albright é também uma doença que provoca puberdade pseudoprecoce juntamente com problemas ósseos, pigmentação irregular da pele (manchas de cor de café com leite) e anomalias hormonais.
A verdadeira puberdade precoce pode resultar de anomalia do desenvolvimento de hipófise ou de hipotálamo. A hipófise poderá libertar grande quantidade de gonodotropinas (FSH e LH) o que pode desencadear o mecanismo de produção de hormonas sexuais femininas e masculinas. Esta anomalia cerebral e endócrina pode resultar de mal formação durante o desenvolvimento embrionário. É diagnosticável através de uma análise endócrina do sangue em 60% dos rapazes e em 20% de raparigas que sofrem de puberdade precoce. O desenvolvimento acelerado pode resultar também de factores ambientais, tais como a alimentação (consumo de pesticidas, fito-estrogénios, substâncias com efeito de hormonas sexuais, etc.), obesidade, baixo peso ao nascimento. A puberdade antecipada pode ser tratada por introdução no organismo de hormonas sintéticas que simulam o efeito de gonodotropinas, ou, no caso de puberdade pseudoprecoce a aplicação de inibidores hormonais e a remoção de cancro nas gónodas se esse existir.
Hoje em dia, o fenómeno de puberdade precoce torna-se cada vez mais frequente devido, principalmente, a alteração dos hábitos alimentares e introdução de produtos químicos no meio ambiente. Sabe-se que os pesticidas podem actuar como hormonas sexuais femininos, causando o desenvolvimento precoce de caracteres sexuais femininos nas crianças. As fito-hormonas têm o mesmo efeito no sistema endócrino humano. Outro problema é a alteração de alimentos e de cultura alimentar. É discutível o perigo de GMO (Produtos Geneticamente Modificados), mas sabe-se ao certo e as próprias companhias de GMO (como a Monsanto) afirmam que os seus produtos são mais nutritivos. Este aumento de valor nutritivo, em conjunto com certos hábitos alimentares (alimentação irregular, excesso de hidratos de carbono, consumo de fast-food) provoca a nutrição excessiva e a má digestão de alimentos. Assim, surge o problema de obesidade que actualmente afecta não só os adultos, mas também cerca de 25% de crianças e 30% de adolescentes. O peso excessivo aumenta 10 a 20 vezes a probabilidade de puberdade precoce. Este problema é extremamente preocupante e é agravado pelo estilo ocidental de vida, pela falta de prática de exercício físico regular e pela propaganda de certas tendências alimentares e culturais que é feita nos mass-media.
A puberdade precoce pode causar o desenvolvimento antecipado de características sexuais secundárias, mas ao mesmo tempo pode provocar disfunções reprodutivas no futuro. Os indivíduos que sofrem de puberdade precoce são de estatura média ou baixa, fisicamente. Também tem um maior risco de ter hipertensão arterial e diabetes. Do ponto de vista psicológico podem não ter a maturidade suficiente para entender as alterações fisiológicas e anatómicas que se passam no seu corpo. Este factor psicológico é crucial: a antecipação de maturação sexual pode provocar alteração de comportamentos sexuais da população, nomeadamente, nos adolescentes. Estes podem iniciar a sua vida sexual mais cedo, o que aumenta a probabilidade de transmissão de doenças sexuais e o número de gravidezes na adolescência.

Autor: Belerofonte