Infertilidade e Reprodução Medicamente Assistida (Crónica)

Hoje em dia, 10-15% dos casais portugueses são inférteis, ao nível mundial cada seis em dez casais têm problemas com a fertilidade em algum período da sua vida. A medicina e a biotecnologia permitem tratar grande parte de problemas que causam a infertilidade. Tanto no homem como na mulher existem anomalias ao nível dos órgãos reprodutores e vias reprodutoras que impossibilitam o acto sexual, a fecundação, a nidação ou o desenvolvimento do embrião. Enquanto os problemas como oligospermia, azoospermia causada por anomalias nos canais eferentes e deferentes ou por ejaculação retrógrada, ou ainda a incompetência do colo do útero na mulher (muco cervical “infértil”) são tratados pelas técnicas de reprodução artificial medicamente assistida (inseminação artificial, selecção de espermatozóides, tratamentos hormonais, ou o uso de “barrigas de aluguer” e dadores de esperma, entre outras). Mas há casos quando um casal não pode ter filhos porque a mulher não produz oócitos II ou porque o homem tem azoospermia derivada da inflamação ou como causa de radiografia.
Por vezes, alguns indivíduos não produzem os gâmetas devido aos diversos problemas (malformações congénitas, infecções, inflamações e lesões). Essas pessoas são inférteis e mesmo recorrendo aos dadores de esperma e “barrigas de aluguer” nunca irão ter descendentes genéticos. Para estas pessoas a nova descoberta dos cientistas da Universidade de Newcastle é um incentivo para esperança.
A técnica descrita na notícia do Público ainda é muito insegura e imperfeita, mas se for desenvolvida e aperfeiçoada pode permitir criar gâmetas humanos viáveis e sem anomalias genéticas a partir de células estaminais. Cada um de nós tem células estaminais adultas no nosso corpo e se essas poderão ser usadas para criação de gâmetas. Teoricamente, as células estaminais adultas só poderão dar origem aos grupos muito restritos de células, mas se for possível criar células germinativas a partir destas células a técnica terá sucesso. Outra hipótese válida é a extracção de células embrionárias, a sua multiplicação induzida por mitose e conservação. Deste modo podem ser usada as células estaminais embrionárias que são totipotentes para criação de gâmetas. Este método seria mais seguro do ponto de vista genético e trazia menor número de consequências negativas para os embriões resultante. Obviamente, depois da criação de gâmetas será necessária intervenção médica para a cariogamia e formação de zigoto (Injeção Intra Citoplasmatica de Espermatozóides ou ICSI (Intra-cytoplasmatic Sperm Injection).
Esta investigação científica, quando desenvolvida, será um milagre para casais inférteis e, se a legislação permitir, aos casais homossexuais que poderão ter filhos comuns uma vez que as células estaminais de um membro originarão oócitos II e do outro espermatozóides. O método poderá levantar questões éticas, tal como outras técnicas de reprodução assistida obriga recorrer a conservação de embriões e a manipulação de fertilidade, mas também envolve manipulações genéticas e, no caso de casais homossexuais, quebra os dogmas da Igreja católica que se referem ao conceito da família. Pessoalmente, não vejo crime em ajudar aos casais inférteis ou casais homossexuais terem filhos, são apenas pessoas desesperadas que esforçam-se por uma o boa causa. Porém, sendo um método que envolve engenharia genética e que poderá usar embriões humanos para experiências genéticas devemos punir todas as tentativas de eugenia, comercio e realização de teste em humanos, sendo estas práticas inaceitáveis. Ajudar a criar vida não é crime, mas jogar com ela é quebrar todas as normas morais e racionais. As experiências genéticas poderão reduzir o ser humano ao simples “material de teste” o que quebra não só a Regra de Ouro da Filosofia, mas qualquer norma ética, transformando nós em animais inteligentes mas maléficos, uma vez que seremos desprovidos de princípios e leis.

Autor: Belerofonte